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Escritora Lygia Fagundes Telles profere palestra para servidores e magistrados

        Escrever é sonhar foi o tema trazido pela escritora Lygia Fagundes Telles para a 14ª edição do Simpósio Qualidade de Vida no Serviço Público, realizada na manhã desta quinta-feira (20) no Fórum João Mendes Jr. O evento – transmitido para 58 comarcas do interior e na Capital contou com a presença de 355 servidores – foi promovido pela Corregedoria Geral da Justiça (CGJ), com o apoio da Presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo, da Escola Paulista da Magistratura (EPM), da Secretaria da Área da Saúde (SAS), do Centro de Treinamento e Apoio aos Servidores (Cetra) e da Secretaria de Primeira Instância (SPI).
        O corregedor-geral da Justiça, desembargador José Renato Nalini, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL), iniciou a conversa afirmando que “como vocês pediram, a APL trouxe aqui para conversar conosco a queridíssima, a amada Lygia Fagundes Telles”.
        Segundo Nalini, ela é "a maior romancista do Brasil, agraciada com o Prêmio Camões, um dos maiores prêmios em língua portuguesa. Nós conseguimos, por generosidade do presidente da APL, Antonio Penteado Mendonça, que aqui fosse uma sessão da Academia Paulista de Letras”.
        Em seguida, o desembargador passou a palavra ao "príncipe dos poetas", Paulo Bomfim, “que este ano completou 50 anos de Academia e é quem mais conhece de Lygia”.
        Paulo Bomfim, em forma de poesia, deu as boas-vindas à amiga: “Lygia e seus personagens vão surgindo na manhã, apaixonam nossas vidas e chegam para ficar...”
        “Beleza, Paulo”, disse Lygia. “Eu queria voltar aos meus tempos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde me formei, eu era bonita e falava tão bem. Alguns jovens se apaixonaram por mim.”
        A escritora falou das atuais manifestações ocorridas em São Paulo e dividiu com os presentes suas lembranças. “Na minha juventude eu me empolgava tanto. A bandeira do Brasil, já naquele tempo, era nosso escudo. Eu participei de várias passeatas contra a ditadura de Getúlio Vargas. Usávamos um lenço preto poroso no rosto, desses que cobrem os mortos, durante nossos protestos.” Lygia declarou que queria ser aquela jovem descabelada da Faculdade de Direito segurando a bandeira. "É uma bandeira linda, que nos cobre, nos consola e que nos ama.”
        A escritora fez questão de citar uma frase de Miguel Reale, seu professor no Largo São Francisco: “a mais importante revolução do século XX foi a revolução da mulher, que começou a entrar nas fábricas, nos escritórios e nas universidades”.
        “Eu descobri que no Brasil há três espécies em extinção”, declarou Lygia. “O índio, o escritor e a árvore. Estão matando muitos índios. Eu tenho descendência indígena. Na minha árvore genealógica tenho a índia Bartira.”
        Em complemento ao comentário da escritora, Nalini acrescentou que “o que eu acho que está em extinção, Lygia, é o leitor”. A escritora concordou e disse que “o Brasil não lê literatura brasileira, vejam na lista dos mais vendidos, todos estrangeiros”. Lygia conclamou: “leiam os escritores brasileiros Monteiro Lobato, Cecília Meireles e até eu”.
        “Meu melhor livro é sem dúvida ‘Seminário dos Ratos’, que estou doando para a biblioteca do Tribunal.” Sobre seu processo criativo, disse: “quando escrevi este livro, eu tive um surto, um enlouquecimento rápido. Os contos que o compõem são todos desesperados. Termino parafraseando Carlos Drummond de Andrade, ‘que século, meu Deus, exclamaram os ratos e começaram a roer o edifício’”.
        Lygia retribuiu ao poeta: “meu amigo Paulo Bomfim é uma testemunha que eu fui jovem”. Confessou que na juventude foi apaixonada pelo amigo: “eu gostava dele, mas ele era casado...”.
        O poeta pediu novamente a palavra ao desembargador Nalini – “quero fazer uma declaração”. O corregedor indagou: “declaração de amor?” Paulo Bomfim tomou o microfone e dirigindo-se a Lygia afirmou: “há 70 anos eu amo você”.
        O desembargador Renato Nalini lançou, no final do evento, um concurso de crônicas, “para incentivar as pessoas a escreverem”. Houve, também, sorteio de 20 livros para os servidores presentes e para os do interior.
        O encontro foi idealizado para representar uma reunião da Academia Paulista de Letras e contou com as presenças de alguns de seus membros; além do presidente da Academia, Antonio Penteado Mendonça, e o poeta Paulo Bomfim, estiveram presentes José Gregóri, José Fernando Mafra Carbonieri, Paulo Nathanael Pereira de Souza e Anna Maria Martins.
        A palestra foi prestigiada também pelo diretor da EPM, desembargador Armando Sérgio Prado de Toledo;  pelos juízes assessores da Corregedoria,  Afonso de Barros Faro Jr. (coordenador), Jayme Garcia dos Santos Junior , Ricardo Felicio Scaff; Durval Augusto Rezende Filho,  Gustavo Henrique Bretas Marzagão,  Luciano Gonçalves Paes Leme, Tania Mara Ahualli,  Mario Sérgio Leite, Maria Fernanda de Toledo Rodovalho, Ricardo Tseng Kuei Hsu e Maria de Fátima Pereira da Costa e Silva. Participaram também as secretárias Ana Lúcia da Costa Negreiros (SPI); Mariângela Maluf Lagoa (Saúde); Diva Helena Gatti da Mota Barreto (Recursos Humanos); Rosana Barreira (Magistratura) e Cláudia Braccio Franco Martins (diretora da CGJ).

        Currículo
        Contista e romancista, Lygia Fagundes Telles formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo, é membro das Academias Paulista e Brasileira de Letras.
        “Ciranda de Pedra” (1954) é considerada a obra em que a autora alcança a maturidade literária. A própria autora considera esse romance o marco inicial de suas obras completas. Além de romances, escreveu também contos e roteiro cinematográfico como “Capitu”, de 1967, baseado em “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. O filme dirigido por Paulo Cezar Saraceni recebeu o prêmio Candango de melhor roteiro cinematográfico.
        Principais obras: “Histórias do Desencontro” (1958), “Verão no Aquário” (1963), “Antes do Baile Verde” (1970), “As Meninas” (1973), “Seminário dos Ratos” (1977), “Filhos Pródigos” (1978), “A Estrutura da Bolha de Sabão” (1991), “A Disciplina do Amor” (1980), “As Horas Nuas” (1989), “A Noite Escura e Mais Eu” (1995), “Invenção da Memória” (2000), “Durante Aquele Estranho Chá” (2002), “Conspiração de Nuvens” (2007), Passaporte para a China (2011).
        Prêmios recebidos pela autora: “Jabuti”; “Coelho Neto”, da Academia Brasileira de Letras; “Ficção”, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA); “Arthur Azevedo”, da Biblioteca Nacional; “Aplub de Literatura”, da Associação dos profissionais liberais universitários do Brasil; “Golfinho de Ouro”; primeiras colocações na premiação do Instituto Nacional do Livro e no Concurso Internacional de Escritoras na França. A consagração definitiva viria com o prêmio Camões em 2005, distinção maior em língua portuguesa pelo conjunto da obra.

        Comunicação Social TJSP – VG (texto) / GD (fotos)
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