A Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ) e a Escola Judicial dos Servidores (EJUS) realizaram, nesta sexta-feira (18), a palestra online “Relações Étnico-Raciais e Adoção”, que trouxe aspectos do racismo estrutural para a realidade das crianças e adolescentes no sistema de adoção e acolhimento. A apresentação foi conduzida pela assistente social judiciária Ana Lúcia Oliveira de Freitas, especialista no tema, com mediação do juiz Marcelo da Cunha Bergo, da Vara da Infância e da Juventude, Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas de Campinas e integrante a CIJ.
“O racismo atravessa a vivência de crianças e adolescentes, e precisamos discutir sobre isso na constituição de famílias pela via da adoção, desde o acolhimento institucional, com um olhar crítico. Quando falamos da medida protetiva de adoção, é importante que tanto profissionais envolvidos quanto as famílias estejam preparadas para lidar com essas questões e garantir proteção para seus filhos e filhas”, afirmou a assistente social, que também reforçou a necessidade de que o processo de adoção seja pautado para melhor atender o direto das crianças e adolescentes.
A especialista trouxe dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) que mostram que 70% das crianças disponíveis para adoção são pretas e pardas, enquanto o interesse de habilitados para a adoção por crianças desse mesmo recorte representa somente 25%, o que ajuda a explicar o déficit de adoção que o sistema enfrenta. O mesmo levantamento mostra que 42% dos habilitados são indiferentes quanto à etnia, o que para a especialista não representa, necessariamente, um avanço. “Isso deve acender em todos os profissionais do sistema de adoção uma luz amarela enorme, porque não é indiferente ter um filho negro no nosso país”.
Ela ainda levantou temas como a necessidade da capacitação de todos os atores envolvidos no processo de adoção, sobretudo das famílias pretendentes, além de uma formação e prática profissional antirracista, a construção de referências negras para crianças nas escolas, na arte e na cultura e a importância de se provocar as instituições para que elas se abram para a reflexão.
A apresentação também contou com a participação da assistente social Ana Paula Pires Lourenço, que recitou um texto sobre racismo na sociedade e resistência da população preta e parda. “A vivência negra é séria, é preciso ter coragem e respaldo, e estar atento. O racismo é autoexplicativo, chega na escola, na família e no parquinho. Criança negra tem coração e tem afeto”, afirmou.
Comunicação Social TJSP – RD (texto) / KS (fotos)