O Tribunal de Justiça de São Paulo, por meio da Coordenadoria de Apoio ao Servidor (CAPS) e da Escola Judicial dos Servidores (EJUS), realizou na sexta-feira (22), a palestra "Vida Urbana e Saúde", com o médico patologista Paulo Saldiva. Ele é professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, integrante do Comitê de Qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde e pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard. Estiveram presentes na Sala do Servidor do Fórum João Mendes Júnior o coordenador da CAPS, desembargador Carlos Otávio Bandeira Lins, o desembargador Alberto Gosson Jorge Junior e cerca de 700 servidores, entre presenciais e à distância.
Saldiva falou sobre urbanização e o surgimento de novas doenças. "A inteligência do homem fez aparecer as cidades. Elas têm seu lado sublime, de evolução e proteção, mas também são as responsáveis pelo surgimento das doenças modernas: a obesidade, a depressão e o câncer", disse. De acordo com ele, durante muito tempo as pessoas morreram de febre. Após o surgimento das cidades, os hábitos foram se modificando, assim como as doenças. "Hoje em dia, no ambiente urbano, apenas 30% das pessoas morrem por doenças febris. Os outros 70% são por doenças degenerativas causadas pela vida moderna", explicou.
"Nós fomos programados para ingerir um alto teor de fibras, proteína animal variada e andar de 10 a 15 quilômetros por dia, entre outras coisas. Hoje ingerimos comidas processadas, em grandes quantidades, não nos exercitamos e vivemos estressados. Há um enorme descompasso na rapidez com que mudamos nossa alimentação e a capacidade do corpo de se adaptar a isso", pontuou, afirmando que o crescimento de doenças como obesidade está relacionado a essa alteração. Une-se a isso o fato de as cidades, pela falta de segurança, inibirem o deslocamento de pessoas - que passam a usar veículos motorizados tanto para pequenos quanto grandes deslocamentos – gerando altas taxas de sedentarismo. "A obesidade vai muito além da ingestão de alimentos, é uma questão de estilo de vida. Hoje, o Brasil tem 20% de obesos e 35% de crianças com sobrepeso", apontou.
Sobre estilo de vida, Paulo Saldiva citou o estresse como mais uma consequência da modernidade. "A cidade cresce e as relações afetivas e sociais se perdem. O fator que mais aumenta a expectativa de vida após os 60 anos é a capacidade de criar e manter vínculos afetivos. Hoje em dia os jovens têm relações fluidas, que não amparam, mas que são perversas no momento do erro. O suicídio entre eles vem aumentando ano a ano e uma das causas, a meu ver, é essa falta de solidez na vida das pessoas", disse. Para ele, o estresse é saudável em casos de ameaça real. Hoje, constante e latente, é uma das causas do aparecimento de câncer.
O remédio para as mazelas da modernidade seria, a seu ver, a Justiça. "Tudo o que é necessário para a cidade ser um lugar sustentável já está posto. O que precisamos é que haja um pacto social, e quem vai mediar esse pacto será a Justiça", finalizou.
Comunicação Social TJSP – AA (texto) / KS (fotos)
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