O Tribunal de Justiça de São Paulo promoveu, na última sexta-feira (20), o cine-debate virtual do documentário "Precisamos falar do assédio", da diretora e roteirista Paula Sacchetta. O evento foi uma realização conjunta da Coordenadoria de Apoio dos Servidores (Caps), Escola Judicial de Servidores (EJUS), Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário do Estado de São Paulo (Comesp) e Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP). Além da diretora do filme, o debate contou com a participação da advogada cofundadora da Rede Feminista de Juristas, Marina Ganzarolli, com mediação da juíza da Vara do Júri de Santo André e integrante da Comesp, Teresa Cristina Cabral Santana. A juíza da Vara da Região Norte de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Camila de Jesus Mello Gonçalves, esteve prestigiando o evento, que teve a audiência de mais de 350 pessoas.
Na abertura, o coordenador da Caps, desembargador Antonio Carlos Mathias Coltro e o diretor da Escola Paulista da Magistratura (EPM), desembargador Luís Francisco Aguilar Cortez, parabenizaram os setores envolvidos pela iniciativa e afirmaram ser uma satisfação proporcionar um evento de tamanha importância, passando, logo em seguida, à exibição do filme.
O documentário "Precisamos falar do assédio" foi gravado em março de 2018. Uma van-estúdio visitou nove lugares em São Paulo e Rio de Janeiro, coletando depoimentos de mulheres vítimas de assédio e abuso sexual. Dentro do veículo, as mulheres ficavam sozinhas para falar, sem qualquer tipo de entrevistador ou interlocutor, para se sentirem à vontade e poderem contar o que quisessem. As histórias vão desde cantadas feitas por desconhecidos no transporte público ou na rua, até estupros cometidos por parentes e dentro da própria casa, quando elas eram crianças. As que preferiram não se identificar, podiam usar uma das quatro máscaras disponíveis que representavam os motivos pelas quais elas não queriam aparecer: medo, vergonha, raiva ou tristeza. Dos 140 depoimentos colhidos, 26 compõem o documentário. Todos os depoimentos podem ser vistos no site do projeto.
"Infelizmente, este é um filme atualíssimo, que está sendo debatido até hoje, porque pouca coisa mudou", afirmou Paula Sacchetta. Ela pontuou que, para além de se proteger as mulheres e denunciar a violência contra elas, deve-se pensar em "educar homens melhores para a sociedade e para mudar esta cultura". "Eu me lembro que, quando eu saía para uma festa, meu pai me chamava a atenção por causa da roupa que eu estava usando. Nunca o vi aconselhar meu irmão, quando ele ia a uma festa, a não assediar as meninas, não ficar com uma garota se ela estivesse bêbada, porque não se pode fazer nada sem o pleno consentimento dela", contou. "Precisamos educar os meninos para que respeitem as meninas e, assim, sejam homens que não violentarão as mulheres quando crescerem."
A advogada Marina Ganzarolli pontuou que, no documentário, muitas mulheres relataram histórias de abuso ocorridas na infância. "Mais de 70% dos abusos sexuais são cometidos contra meninas entre 13 e 17 anos e a violência sofrida na infância atravessa a história de vida destas mulheres", ressaltou. "O abuso que está acontecendo com esta menina agora ela só vai relatar daqui a quinze anos. É preciso falarmos sobre este tema, porque se trata do futuro das nossas crianças." Ela destacou, também, que a violência de gênero pode atingir qualquer mulher, independente de raça, idade, classe social. "Situações de violência sexual que acontecem no terreno baldio correspondem a menos de 6%. A maioria é praticada por pessoas próximas."
A juíza Teresa Cristina Cabral Santana pontuou que o caminho para combater a violência contra a mulher é a educação voltada para a igualdade de gênero. "Educando meninos e meninas para o respeito e a igualdade conseguiremos transformar a cultura da discriminação em nossa sociedade para uma cultura de paz."
Comunicação Social TJSP – DM (texto) / KS (reprodução e arte)