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Órgão Especial do TJSP homenageia advogado Troncoso Peres

    O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo prestou nesta quarta-feira (22/4) uma homenagem ao advogado Waldir Troncoso Peres, falecido no último dia 12, aos 85 anos, em consequência de insuficiência renal. 
    Antes do início da sessão plenária do Órgão Especial, realizada no 5º andar do Palácio da Justiça, centro da Capital, o desembargador Walter de Almeida Guilherme procedeu ao elogio póstumo ao advogado. "Por delegação do DD. Presidente desta Corte de Justiça, desembargador Roberto Antônio Vallim Bellocchi, com a aquiescência dos demais integrantes do Órgão Especial, cabe-me, em nome do Tribunal de Justiça de São Paulo, proceder ao elogio póstumo ao dr. Waldir Troncoso Peres. Talvez tenha sido indicado – o que muito me honra, a par da inevitável tristeza de que sou tomado –, em virtude de ter sido eu, dentre os demais Desembargadores componentes deste Órgão, quem mais de perto tenha convivido com o homenageado. Não que assim tivesse ocorrido por muito tempo, dado que por poucos anos, ao longo de meados da década de setenta e início da de oitenta, tempo no qual fui Promotor de Justiça do I Tribunal do Júri de São Paulo, no qual o dr. Waldir pontificou".
    Em seguida, o filho do advogado, desembargador Moacir de Andrade Peres, falou sobre a carreira de mais de meio século de Troncoso Peres, considerado um dos maiores advogados criminalistas do Brasil. “Aos 18 anos, no encerramento de um curso pré-jurídico, em novembro de 1941, meu pai fez um discurso em que disse, entre outras palavras: ‘a humanidade vive um dos períodos mais negros. Faz-se mister que lutemos com todas as forças. Não somos presas da covardia. Tudo faremos para desvendar para o mundo uma geração de gigantes’. Tão novo Waldir Troncoso Peres já demonstrava maturidade, consciência e comprometimento com a carreira a que se dedicaria a seguir. Eu tenho orgulho de ser seu filho”, afirmou o desembargador Moacir Peres. 
    No encerramento da homenagem, o presidente do TJSP, desembargador Roberto Antonio Vallim Bellocchi, fez menção “ao ilustre e augusto advogado lembrado nesta tarde” e disse: “oxalá se tenha brevemente no Salão dos Passos Perdidos do Palácio da Justiça uma galeria dos advogados que, como Waldir Troncoso Peres, atuaram no Tribunal do Júri”.
    Leia abaixo a íntegra do discurso do desembargador Walter de Almeida Guilherme em memória de Waldir Troncoso Peres:
"Excelentíssimo senhor Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, senhores Desembargadores, Desembargador Moacir Andrade Peres e demais familiares do dr. Waldir Troncoso Peres, minhas senhoras e meus senhores.     Por delegação do DD. Presidente desta Corte de Justiça, desembargador Roberto Antônio Vallim Bellocchi, com a aquiescência dos demais integrantes do Órgão Especial, cabe-me, em nome do Tribunal de Justiça de São Paulo, proceder ao elogio póstumo ao dr. Waldir Troncoso Peres. Talvez tenha sido indicado – o que muito me honra, a par da inevitável tristeza de que sou tomado –, em virtude de ter sido eu, dentre os demais Desembargadores componentes deste Órgão, quem mais de perto tenha convivido com o homenageado. Não que assim tivesse ocorrido por muito tempo, dado que por poucos anos, ao longo de meados da década de setenta e início da de oitenta, tempo no qual fui promotor de Justiça do I Tribunal do Júri de São Paulo, no qual o dr. Waldir pontificou.                          
Os homens, no curso de uma vida, fazem-se admirados ou não. Tornam-se gigantes ou não. São vistos como paradigmas ou não. Embora a gente tenha uma idéia de quem se é, verdadeiramente nós somos quem os outros pensam que somos. Assim, para saber em que condição o dr. Waldir Troncoso Peres se postou é de se dar voz a quem com ele esteve na liça da advocacia criminal.                          
Ouço do Presidente da Ordem dos Advogados de São Paulo que “Advocacia, especialmente a criminalista, perde um grande mestre, de notório saber jurídico, grande oratória e vasta cultura.” Da Federação das Associações dos Advogados do Estado de São Paulo que “Foi um ícone da advocacia levada a sério por um homem que acreditava na capacidade do seu semelhante em ser indulgente, temperante e, principalmente, via mortificado as misérias humanas.”. De outro notável advogado, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, vem a constatação: “Foi o orador mais brilhante que já ouvi”, acrescentando que brincava com ele: “O seu problema é que a gente não sabe se você pensa antes de falar ou se fala antes de pensar. E ele ria.”. De outro advogado pleno de talento, o dr. José Carlos Dias, leio que o Espanhol, como carinhosamente era o dr. Waldir tratado pelos que conviviam no ambiente do fórum criminal, era o gigante como advogado que soube ser, aliando o grande dom como orador capaz de empolgar e convencer os jurados à capacidade de absorver o sumo do processo, de condensar o essencial e arrebatar o ouvinte com argumentos e análises.                          
E o que ouço de mim a respeito do dr. Waldir Troncoso Peres?                          
Escuto o advogado que, na tribuna do júri, desvendava a alma do acusado. Humanizava-o, o que era difícil fazer para o Promotor de Justiça, para o juiz, para os jurados, que muito mais tinham do réu o retrato que emanava dos autos do a figura humana, ainda que ele, julgamento, estivesse presente. Se vamos julgar alguém, sobretudo em função de uma acusação de violação da lei penal, é preciso que saibamos de quem se trata. Não apenas o que está escrito no processo, mas, na medida do possível, o ser humano por inteiro. E o dr. Waldir punha-se a revelar o homem embutido nas folhas do processo. Fazia-o enveredando pelo campo da psicologia, da filosofia, da literatura. Quando defendia alguém acusado de crime passional, ouço o dr. Trocoso Peres dizendo que devíamos ser tolerantes com o amor, que, ao lado do ciúme, do medo e do ódio, é um dos quatro gigantes da alma, citando Mira y López.                          
Carlos Drummond de Andrade, no poema o Lutador, diz que lutar com as palavras é a luta mais vã, asseverando que “o inútil duelo jamais se resolve”. Pois Waldir Troncoso Peres venceu. Fez do uso da palavra a ferramenta para conquistar as mentes e os corações que de quem o assistia quando na tribuna da defesa.                          
Humano, demasiadamente humano o dr. Waldir, que, entrevistado quando já tinha setenta e oito anos e já havendo defendido mais de 130 homens e mulheres que mataram seus cônjuges, não hesitou em afirmar que quem ama pode matar. Acredito no crime por amor, exclamava, evocando imagem do escritor inglês Somerset Maughan a respeito do amor. Ele diz que é um sentimento tão intenso que o homem e a mulher se fundem. O nascimento do filho é o resultado dessa fusão. Então, quando existe a ruptura – e a ruptura em regra é unilateral – aquele que a sofreu, que é abandonado, rejeitado, é capaz de matar. 
Mas é preciso falar também de ter sido o dr. Waldir um grande defensor dos pobres, como procurador da assistência judiciária que antecedeu a Defensoria Pública de hoje, e dos mais de mil júris que fez, a maior parte foi em favor de gente humilde. 
O dr. Waldir Troncoso Peres foi também um paladino do Poder Judiciário, que considerava a coluna vertebral da civilização brasileira, Na sua visão, foi o único Poder que não se contaminou “no curso histórico, com as ditaduras que vêm destruindo o nosso país periodicamente.”. E para seu gáudio, que sabe não de início, visto que visceral advogado, teve um filho que hoje é nosso colega Desembargador, o dr. Moacir Andrade Peres.                          
Vai-se mais um varão de Plutarco, deixando mais pobre nossa pátria.
Ah, a morte sempre esperada é sempre inesperada".


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