Comunicação Social

Notícia

Retrocessos morais

          A tragédia francesa só causa surpresa a quem não se apercebeu que a desumanização é um fenômeno evidente. Proclama-se a era dos direitos, a universalização dos direitos fundamentais, os avanços tecnológicos e científicos, mas convive-se com a crueldade, a indiferença, a insensibilidade, o egoísmo cada vez mais entranhado na consciência dos maus.

          Ambiguidade é uma das características desta fase melancólica de sepulcro dos valores mais caros à civilização. Cada qual só pensa em si. As verdades individuais são sempre absolutas. O outro é elemento estranho à minha esfera de interesses.

          Enquanto a França enterra seus mortos, a tragédia de Mariana é outro testemunho do descaso em relação à natureza. É viável mensurar as consequências de ambas as catástrofes? Vidas contabilizadas em Paris, incontáveis existências lesadas num desastre ecológico suscetível de gerar resultados danosos por dezenas ou centenas de anos.

          Como seria bom que a Humanidade se convertesse, efetivamente, naquilo que a cultura projetou em relação à pretensiosa criatura racional, ponto mais elevado na escala animal, a única espécie capaz de praticar o mal conscientemente e continuar a viver como se nada tivesse acontecido.


        José Renato Nalini
Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo


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