Correndo, vivendo a vida e sendo feliz
Quem pensa que só de Solonei Rocha da Silva (campeão das maratonas de São Paulo e de Guadalajara no México), que coleciona reconhecimento, vive o sangue penapolense no esporte está muito enganado. No Fórum de Penápolis há uma funcionária que tem rodinha nos pés – a Zu ou Zuzu, como é carinhosamente chamada. Aqueles que se aproximam do balcão do cartório da 1ª Vara Judicial percebem a presença de uma mulher negra, com um largo e contagiante sorriso, de bem com a vida e pronta para atender bem. Lá está Zulmira Rosalina Felipe, agente de serviço judiciário.
Para ela a tristeza não tem vez. Teve inúmeros sofrimentos, como a perda do filho José Henrique Felipe que, em 2005, faleceu em um acidente automobilístico quando tinha apenas 19 anos. "Tive muitas desilusões na vida e, se fosse outro tipo de pessoa, era para estar depressiva. Deus sabe o que faz, tenho que continuar com a minha vida." Zulmira é a segunda dos oito filhos (seis homens e duas mulheres –Cida, Tião, Carlinho, Cleide, Nice, Dete e Toninha) do casal Jandira Quirino e Sebastião Felipe (falecido).
O início – Sua paixão pelo pedestrianismo começou por motivo de saúde. A taxa do colesterol e triglicérides estava com índices elevados. O médico a orientou a praticar exercícios físicos. No início, começou a caminhar e depois intercalava caminhada e corrida. A cada dia corria mais e mais. Em 2009, a amiga Iris a convidou para participar de uma prova em Araçatuba, a XIII Corrida Hilda Mandarino. Para sua surpresa se classificou na 9ª posição. "Foi uma corrida debaixo de chuva forte. Nos oito quilômetros percorridos pisava em poças d'água, estava toda encharcada, mas valeu a pena porque foi aí que peguei gosto pela competição", afirma sorridente.
A partir desse dia, Zuzu começou a treinar com mais afinco. Participou de competições em Bauru, São José do Rio Preto, Catanduva, Valparaiso, Araçatuba, José Bonifácio e Penápolis. A última conquista foi em 26 de agosto deste ano quando alcançou a primeira colocação na categoria acima de 45 anos, na corrida Rústica Caxias – que teve parceria com a Secretaria Municipal de Esportes e o Tiro de Guerra de Penápolis. "É um percurso difícil, pois tem muita subida e trechos de terra."
Zulmira considera as corridas em Bauru (Eco Runner) também muito difíceis por ter que percorrer asfalto e terra, mas lá também já consquistou 1º lugar nos dez km de prova. "É uma grande experiência, fico muito contente por ter a idade que tenho (55) e conseguir participar de corridas. Sinto-me envaidecida e me renovo a cada vez que corro." Quem a olha nem imagina a idade que tem. Sua aparência física e seu jeito de ser são joviais. "Procuro estar sempre sorrindo, minha expressão é essa e isso não me deixa envelhecer, independentemente das coisas que acontecem. Parece que as minhas células ruins vão embora e outras boas vêm a cada corrida. Tenho o maior prazer quando falo minha idade, estou de bem com ela!", garante Zuzu. "Sempre finalizo as corridas numa boa. Não corro para ser a melhor, quero participar e terminar a corrida isso já é um prêmio, ganhar é bom, né? Mas, o bom mesmo é participar! Não dá para endoidar e querer ganhar da molecada, pois em muitas competições não há a separação por faixa etária."
Zu comenta que na sua família todos têm uma certa ligação com o esporte. Com orgulho fala do seu filho, Diego Felipe, que participa de campeonatos amadores e que, inclusive, é ganhador de muitas medalhas e troféus. "É goleiro dos bons, premiado por ser o menos vazado", diz a mãe que mostra as provas das conquistas do filho expostas no quarto dele.
Todo sábado ela pega a estrada e corre no mínimo oito quilômetros. Seu marido acompanha de moto para lher dar apoio, como água e proteção. Duas vezes por semana corre dentro da cidade, uma vez por semana (e "olhe lá") vai à academia. "Não gosto de academia, sou preguiçosa, faço esteira e musculação, pois vou pedalando para o trabalho todos os dias."
"Sempre que participo de competições o pessoal do fórum me deseja boa sorte. Tenho incentivo também do juiz da vara, Marcelo Yukio Misaka. Quando ganho um prêmio levo para mostrar para os colegas e deixo-o exposto para que todos vejam. Tenho vontade de correr na São Silvestre. Penso que todo atleta tem essa vontade", frisa Zuzu.
Trajetória – Sua vida profissional teve início na infância, quando tinha oito anos e começou a trabalhar em casa de família, como babá, mas cuidando também do serviço da casa. Trabalhou em São Paulo como doméstica por 12 anos. Cuidava de duas crianças e da casa, lavava, passava e cozinhava. "Muitas vezes estava lavando louça e com o pé empurrava o carrinho do bebê." Ao voltar para Penápolis continuou a trabalhar como doméstica, casou-se e continuou trabalhando. Fez vários concursos até passar para auxiliar de serviços no TJSP, onde começou a trabalhar em 1990. Quando os serviços gerais foram terceirizados foi remanejada para o cartório. Zulmira conta que "tivemos uma reposição salarial que rendeu uma boa diferença que deu para comprar um monte de coisas. Comprei roupas e móveis, coisas que eu não tinha.
O Tribunal – "O TJ é o meu ganha-pão. Estou feliz com meu trabalho e estou recebendo as minhas licenças-prêmio. Faltam cinco anos para me aposentar, peço a Deus muita saúde para aguentar e aposentar bem", declara. "Todos os dias nas minhas orações agradeço a Deus, aos meus antepassados, amigos e ao presidente do Tribunal de Justiça, Ivan Sartori", diz Zulmira. "Agradeço às pessoas que direta e indiretamente são responsáveis pelo meu salário. As coisas podem não vir hoje, mas podem vir amanhã", completa. "Amo viver a vida. O que tenho de bom é a vida, o resto você conquista. Tem que viver e viver bem, com muito amor. Gosto de tudo o que faço, trabalho e não reclamo, trabalho com muito amor. Sempre de olho no balcão e meu atendimento ao público é o melhor, eu adoro!”
Para Zuzu, atender com educação e muito bem é uma obrigação de todos. "Todo mundo que procura o Judiciário vem com problemas, ninguém vem para perguntar de festa. Você não tem que 'soltar os cachorros' nas pessoas; elas não têm que sair de lá chorando por serem mal atendidas. Trato com carinho e amor. Quando se despedem, ouço sempre 'Deus lhe pague ou fique com Deus'. Às vezes me falam que sou 10, eu brinco que sou 1000, atendimento vip!"
Zuzu conta que quando aparece alguém estressado, ela 'tira de letra'. "Se você trata bem quem te trata mal, você mostra sua postura e a pessoa acaba te respeitando. Atendendo bem, o tempo passa mais rápido e quando percebo já é hora de ir almoçar ou ir embora. O pessoal me respeita no balcão e eu também respeito. Sei que todos saem satisfeitos", afirma. Ela conclui: "eu me amo, não consigo viver sem mim. Trabalho feliz. Tenho problemas como qualquer pessoa, problemas são da porta para fora. Quando entro no fórum sou a Zulmira servidora; da porta para fora sou outra pessoa". A alegria de Zulmira é demonstrada em todo o momento. "O esporte faz melhorar mais ainda a minha autoestima. Vou correr até de bengalinha, vou correr até quando puder", ressalta a funcionária-esportista com sorriso contagiante!
Projeto Jus_Social
Esse texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que – de alguma forma – realizam atividades que se destacam entre os servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que o diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados.
Com o projeto “Jus_Social”, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo foi o ganhador do X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012, na categoria Endomarketing.
NR: Participe. Envie sugestões de pauta sobre magistrados e servidores do Poder Judiciário para o e-mail da Comunicação Social.
Comunicação Social TJSP – LV (texto e fotos)