Mentalização – uma faísca que surge e se acende na escuridão
Com muita frequência se ouve dizer que o poder da mente é muito amplo e que diversos males são causados por essa capacidade, assim como muitas conquistas também dependem do estado mental. Neste mês, o Projeto Jus_Social trata do assunto ao relatar a experiência do desembargador Everaldo de Melo Colombi. “Se deu certo para mim, por que não dará certo para outras pessoas?”, pergunta.
“A mentalização é uma alternativa, não a salvação. Qualquer pessoa pode experimentar esse remédio, não há contraindicação e é de graça. O caminho é aprender a cultivar a boa energia do pensamento, da palavra e da fé”, assegura Melo Colombi. Ele orienta no sentido de transformar o pensamento, as palavras e ter fé. A fé a que se refere o desembargador não é só a fé religiosa, mas fé no sentido de acreditar que coisas vão acontecer. "Só dá certo na sua vida aquilo em que você acredita. A primeira circunstância para dar certo é acreditar. O primeiro passo é exatamente acreditar no sonho, no ideal." Conforme suas palavras, se não acreditar, vai afastar, mas não adianta somente acreditar se a pessoa é maledicente, crítica e só vê as coisas ruins dos outros. "Tudo é energia. Portanto, não coma comida estragada, não jogue para dentro de si palavras estragadas, suas limitações.”
“Ninguém come comida estragada. Se alguém disser que na hora do almoço vai comer aquela comida e você perceber que não tem bom cheiro, boa visibilidade, você a excluirá e não a comerá. Muitas vezes falam-se coisas estragadas, você as recebe e começa a ser depositária de coisas estragadas. O caminho deve ser o mesmo; da mesma forma que não come comida estragada não deve deixar sair da sua boca palavras que não fazem bem”, afirma com convicção.
Os mentalistas acreditam que o ser humano persegue a esquadria da felicidade: saúde, amor, riqueza e a perfeita expressão própria. “Saúde: todos nós sabemos que sem saúde não se vai a lugar algum; riqueza: é inerente ao ser humano. Queremos comer bem, morar bem, ter um carro bom etc; amor: sem amor não se vive; e, por último, a perfeita expressão própria, que é a razão pela qual viemos a este mundo, sua aptidão. Cada ser humano tem uma expressão diferente, não existe ninguém no mundo com digital igual. Em qualquer lugar do mundo a digital terá risquinhos diferentes.”
Melo Colombi esclarece que todos nascem com aptidões, mas, em decorrência de tanta competição, as pessoas estão cada dia mais longe da sua perfeita expressão. Caminhar no sentido daquilo que lhe faz bem é uma medida importante. “Eu me sinto adequado à minha função, mas há muitos exercendo uma profissão que não tem nada a ver com sua perfeita expressão. Até certo momento da vida dá certo, até se satisfaz, mas se não está vivendo a sua perfeita expressão, começará a sentir uma angústia no peito e torna-se preciso fazer o caminho de retorno. É como se houvesse dois eus: eu e a perfeita expressão. Essas duas partes se separam, mas chega um momento em que é preciso se juntar, ocorre quando começa a sentir a angústia. Há casos que fogem do próprio controle. A criança nasce com a perfeita expressão, mas os pais mudam de local e o sonho é deixado”, declara.
Como exemplo de não estar na perfeita expressão, ele citou o Tarzan. “Já imaginou levar o Tarzan para pescar em Santos, ele vai enjoar e se sentir mal. Por outro lado, se você levar um caiçara para viver na selva e pular com o cipó, ele vai cair, levar muitos tombos e também não será feliz. É preferível um marujo feliz, um marujo que assobia, limpa feliz o convés, vive sua perfeita expressão a um almirante que tem cinco medalhas no peito e que não vive sua perfeita expressão. É almirante para agradar sua mãe, sua família... para mostrar para a sociedade. O marinheiro vive a aptidão dele e por isso é feliz”, afirma o desembargador .
Para Melo Colombi, há pessoas que sofrem porque, de repente, percebem que têm que trabalhar com emoção, mas exercem suas atividades somente com a razão, então começam a perceber uma determinada angústia e sentir que a vida não está respondendo ao objetivo que desejam. Ao passo que a pessoa que começa a trabalhar com a sensibilidade começa a entender que, além do racional, há o pensamento, a palavra e a fé, elementos subjetivos que podem ser desenvolvidos. “É dado o nome de destino, casualidade, mas não é bem assim. Aquilo em que se acredita existe muito mais de verdadeiro na energia que, muitas vezes, por meio da razão... o pensamento, a palavra e a fé são elementos de energia. Você pode trabalhar com a energia para o bem ou para o mal.”
A cada 15 dias Everaldo de Melo Colombi coordena um trabalho de mentalização em Santos, cada vez com tema diferente e totalmente gratuito. “Na verdade, a pessoa vai restaurar, reequilibrar a sua personalidade no sentido de perceber onde está a inadequação dela. Não existe milagre, tudo é elaboração. É um laboratório humano. As pessoas chegam desesperadas, estão inadequadas, não estão na sua perfeita expressão. Às vezes nem sabe quem são. Policie seus pensamentos, suas palavras, que a partir de algum tempo se transformarão em hábito. A contaminação da energia atrapalha, não se deixe contaminar.” Segundo ele, “a primeira coisa é saber se está vivendo ou não sua perfeita expressão. Imagina que coisa mais cruel o Tarzan num barquinho pescando, mareado, sofrendo todos os dias e o caiçara na selva”.
Ele salienta que, em muitas situações, a pessoa está de passagem, precisa de um suporte, e às vezes, a mentalização é uma ponte, um degrau, um muro, uma estrada que será percorrida para continuar a trajetória. “Se você sair de casa achando que tudo vai correr mal, vai chegar atrasado, o trânsito vai acabar com o meu dia... isso vai acontecer mesmo. Se atrasou, pegou trânsito, não deixe que isso acabe com o seu dia. Tem que ter bons pensamentos e boas palavras. Tem que pensar bem, que significa pensar em coisas positivas... que vão dar certo... coisas que lhe dão alegrias. Alguns dizem que isso é história da carochinha, mas, entretanto, quem costuma a lidar com isso percebe que consegue lidar de maneira diferente com situações aparentemente graves. Use sempre palavras construtivas, não use palavras destrutivas.”
O desembargador exemplifica contando um 'causo' sobre Cristóvão Colombo quando navegava para descobrir a América. “Chegou a um momento em que havia água... água e água e os marinheiros queriam voltar, desistir, mas ele (Colombo), persistente, mandou prosseguir. Não demorou muito a embarcação começou a navegar de forma mais lenta, o que fez com que os marinheiros reafirmassem que deveriam voltar. No entanto, Cristóvão determinou que eles mergulhassem para verificar o que estava acontecendo e, então, conseguiram ver que havia algumas raízes e assim, logo, terra estaria por perto...motivando a todos a continuar seu caminho”, conta. “Assim, na vida, podem existir raízes nos impedindo de prosseguir; nessas situações, é preciso nos desvencilharmos delas para continuar em busca dos sonhos.”
Outro fato elencado é que “as pessoas têm o hábito de não valorizar o que fizeram, o que conseguiram, desdenham o que conseguiram e querem conseguir coisas maiores. Se derem valor, chegarão mais longe ainda. Se você não agradecer a cama de palha na qual você dorme, nunca irá usufruir da cama de ouro que almeja porque, quando chegar lá, vai querer a de diamante”.
A mentalização na sua vida - A mentalização surgiu na vida dele em um momento muito difícil. Melo Colombi sempre foi amante do esporte, praticando várias modalidades. No final da década de 80, estava se preparando para uma maratona em Nova Iorque, correndo no Parque Ibirapuera, quando sentiu uma fisgada muito grande e procurou ajuda médica. Foi constatada uma hérnia e a necessidade de cirurgia. Passado o tempo de recuperação, foi caminhar na praia e, ao descer do calçadão para a areia, sentiu uma dor insuportável, que nem de longe se comparava com a anterior. Não aguentou, travou e precisou da ajuda de um vizinho para levá-lo até em casa. O diagnóstico também era péssimo... Havia uma hérnia residual e, naquele momento, não poderia fazer outra cirurgia. “Imagina só alguém que correria 42.195 metros não conseguir dar cinco passos.”
O magistrado se afastou do trabalho, não podia dirigir, mal conseguia dar alguns passos, somente saía para ir ao banco receber seu pagamento e pagar as contas do mês. Foi numa dessas idas ao banco que encontrou o caminho da cura. Um dia, esperando atendimento da sua gerente Sheile, viu um livro e ficou curioso pelo título, 'Alegria e Triunfo'. Começou a folheá-lo e sentiu que ali poderia estar o caminho para resolver o seu problema, pois tinha procurado todo tipo de ajuda, até mesmo a psicológica, e nada havia sido resolvido. A gerente lhe emprestou o livro e disse que foi um amigo mentalista que havia lhe dado de presente. Devorou a leitura e quis falar com o amigo dela. Com a ajuda de Sheile, foi lhe apresentado Ivan Pires Salles, que explicou o que era a mentalização e falou da existência de 409 grupos mentalistas no mundo, que nos dias 6, 13, 21 e 28, das 21 às 22 horas, reuniam-se num processo de mentalização. Havia um grupo bem pertinho, chamado 'Os 13 mentalistas de Santos'. Foi nesse dia que Melo Colombi tomou conhecimento da esquadria da felicidade, que o ser humano busca para a felicidade: saúde, amor, riqueza e perfeita expressão própria. Quando ouviu a palavra mágica 'saúde', ficou muito mais interessado, pois era essa a sua grande preocupação. Começou, então, a praticar os princípios da mentalização e quando foi à mesa de cirurgia tinha a certeza absoluta de que tudo daria certo. O médico anunciou: “você ficará bom, vai andar, dirigir, mas praticar esportes nunca mais”. As previsões médicas falharam! Até hoje, há quase três décadas, Melo Colombi pratica natação, corre e joga bola. O médico até brincava que o levaria para todos os congressos para contar qual foi o milagre. O milagre? Ele disse saber muito bem: mentalização! Totalmente recuperado, leva sua vida para lá de normal e se engajou totalmente nos princípios de mentalização.
Magistratura - A Magistratura surgiu em sua vida quando era um menino, um estudante que pegava o ônibus em frente à Faculdade de Direito, em Santos. Olhava para dentro do prédio, via os alunos e pensava que um dia gostaria de estudar ali, participar daquele mundo. “Sem eu saber, já estava trabalhando com a minha mente.” Melo Colombi perseguiu seu sonho e passou no primeiro vestibular, aos 18 anos. “Algo que sempre me machucou foi a injustiça, você ser tratado de forma desigual. Todos somos iguais e devemos ser tratados da mesma maneira”, afirma. Na expectativa de tentar fazer Justiça, voltou-se à Magistratura. Terminou o curso de Direito aos 22 anos, mas foi advogar porque só poderia prestar a Magistratura com 25 anos, o que foi feito, e passou também no primeiro concurso. De origem humilde, sempre ouvia dizer que para estar na Magistratura teria que existir a tradição na família, mas isso não o intimidou e ele provou que se tratava apenas de um mito.
Atualmente somam 35 anos dedicados à arte da Magistratura. “Consigo botar a minha cabeça no travesseiro e saber que fiz Justiça. Não adianta ter milhões e não dormir bem, não ter paz de espírito”, assegura. “Eu jamais abro mão da minha jurisdição, vou perdê-la com a aposentadoria ou com a morte. Eu, como pessoa, creio que a mentalização me ajuda a formar convicção, a entender o ser humano.” Para ele, é perfeitamente compatível ser magistrado e praticar a mentalização.
Dicas - Melo Colombi deixa aqui dicas. “Muitos concurseiros não conseguem passar nas provas não por falta de conhecimento, mas por não acreditar naquilo que buscam. Comece a policiar seus pensamentos, suas palavras, que depois de algum tempo isso começa a fazer parte da sua personalidade. Não deixe jogar para dentro de si suas limitações. Não coma comida estragada! Se você olhar o que deseja com tanta ansiedade, vai cortar a energia e fazer com que ela não flua.”
“Tendo em vista a competitividade, as pessoas estão longe da sua perfeita expressão. Há muitos tarzans pescando e muitos caiçaras balançando-se em cipós. Não se limite, não se feche. Você tem que se abrir para acontecer seu sonho, por mais que circunstâncias surjam, vá em busca deles, o importante é acreditar!”
Veja mais sobre o tema na página do Facebook: Mentalização e Vivência, em que há postagens do entrevistado.
Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que – de alguma forma – realizam atividades que se destacam entre os servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que o diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados. Com o projeto “Jus_Social”, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).
NR: Participe. Envie sugestões de pauta sobre magistrados e servidores do Poder Judiciário para o e-mail da Comunicação Social.
Comunicação Social TJSP – LV (texto e foto)