Jus_Social: servidor do TJ conclui maratona na Antártida
Escrevente do Juizado Especial Cível de Valinhos, Guilherme Costa Tacco, funcionário do Tribunal de Justiça desde 2004, teve sua vida transformada por momentos ruins e encontrou na corrida a luz para prosseguir sua jornada. O personagem do projeto Jus_Social* deste mês nasceu em Campinas, filho de João Roberto Tacco e Mariza Aparecida Costa, que também tiveram mais dois filhos: Mariana Costa Tacco (falecida) e Gabriel Costa Tacco. "A corrida me estimula e dá ânimo. Cada prova concluída me incentiva a superar os desafios do dia a dia no TJ”, diz.
Quando adolescente, Guilherme foi estimulado a participar de sua primeira São Silvestre por um casal de primos que corre juntos há mais de 30 anos. Ele já completou a Meia Maratona do Rio de Janeiro duas vezes (2009 e 2012), a Volta da Pampulha (2012), e a Meia Maratona de São Paulo (2014). Também completou as maratonas de Blumenau (1994), São Paulo (2010), Buenos Aires (2012), Foz do Iguaçu (2013), Paris (2015), Atacama (2014) e Las Vegas (2015). Sua grande superação foi a “Ice Marathon 2013”, pois, além da dificuldade em enfrentar temperatura abaixo de zero grau, teve um valor sentimental por ser uma homenagem a sua irmã falecida.
A virada – Em 1991 Guilherme sofreu grandes choques emocionais. Um trágico acidente de carro levou precocemente sua irmã mais velha, que tinha 18 anos. Esse fato e a separação conflituosa dos pais contribuíram para que enfrentasse um período de depressão. Para superar, voltou a correr. "Queria sentir novamente a sensação de cruzar a linha de chegada, como na São Silvestre. Uma mistura de euforia, contentamento e superação", conta.
Decidido, começou a correr com mais frequência e outro espírito. “Me alimentava daquilo. Preenchia minha alma e aliviava as minhas angústias. Eu, que me sentia sozinho, sem chão e entrando num quadro depressivo, comecei a reverter o destino de minha vida propondo novos desafios.”
De pequenas provas locais, passou a se aventurar em outros Estados, em competições de maior relevância. Para uma pessoa tímida e que havia se fechado ainda mais em razão das surpresas da vida, as corridas trouxeram novas amizades. "Conheci pessoas saudáveis, livres de vícios, de bem com a vida e, principalmente, carregando histórias de superações", ressalta. Foi também em uma corrida que conheceu a namorada, Samara Santos.
Continente gelado – Num domingo tedioso em que assistia TV, viu um programa sobre maratona na Antártida. Imaginou ser algo para malucos. No meio da matéria, no entanto, um dos atletas disse que competia para homenagear os mortos do furacão Katrina e isso o fez mudar de ideia. "Para minha surpresa, todos os competidores tinham uma motivação forte, fosse uma causa pessoal ou de relevância mundial. De imediato, veio a imagem de minha irmã na mente, uma pessoa muito especial e que me fazia falta há quase vinte anos. Por que não homenageá-la?", questionou.
Guilherme sabia das dificuldades em correr num ambiente hostil e que um bom preparo seria a chave para evitar surpresas desagradáveis. A quantidade de cuidados necessários o assustava: roupas, alimentação, viagem e hospedagem. Além dos custos altos. Mas ele não estava disposto a desistir! A realização de um grande sonho requer esforço e disciplina diária, mas a questão financeira também é um fator que merecia atenção. "Os patrocinadores de grandes atletas no Brasil já são escassos. Para os desconhecidos a situação é ainda pior. Eu não tive nenhum patrocínio”, conta.
Teve o apoio da família e da namorada, que comandava seus treinos. Munidos de planilhas, suplementos e muita determinação, treinavam pelo interior de São Paulo. "Durante a semana, acordávamos de madrugada para ir à academia, natação e correr curtos percursos. Os finais de semana eram reservados para treinos longos. Já meu cardápio era elaborado por minha mãe: uma mistura de proteína, carboidrato e muito amor", relembra.
Na tentativa de simular o terreno acidentado da região antártica, Guilherme treinou em Ubatuba e no Rio de Janeiro (treinos na areia), mas ainda era pouco. Treinar em uma região mais fria lhe daria segurança. Viajou para Monte Verde, no sul de Minas Gerais. Para sua frustração, a temperatura mínima chegou a zero grau, nada comparado aos menos vinte previstos na “Ice Marathon”.
Superação – Finalmente chegou o dia esperado. Mesmo sem entender grande parte das recomendações, por não falar inglês perfeitamente, Guilherme se sentia preparado. Ainda mais pelo objetivo: homenagear a irmã. Dada a largada, viu que as dificuldades seriam maiores que o previsto. Era complicado enxergar, pois os óculos embaçaram logo nos primeiros quilômetros. E, na tentativa de limpá-los, o equipamento acabou congelado. “Minha visão mais confortável era apenas frestas formadas pelo suor que escorria nas lentes. A falta de adaptação com o protetor de nariz e boca também me deixou mais ofegante do que o previsto.”
No percurso, a temperatura de menos 22 graus, com sensação de menos 30 graus, congelou o suor, formando pedras de gelo dentro da blusa. A essa altura, não havia mais motivos para parar. Passando na cabeça todo o filme da sua vida, em especial a perda da irmã, percebeu que estava chegando ao final da prova. Cruzou a linha de chegada em nono lugar, depois de cinco horas, quatro minutos e 47 segundos de muita superação. Foi o primeiro paulista a completar essa prova e empunhou a Bandeira do Brasil, que levava a assinatura dos amigos e a foto da irmã.
Sua meta para a vida é correr uma maratona em cada continente e continuar acreditando em seus sonhos, mesmo com a dificuldade em conseguir patrocínio. Treina de quatro a cinco vezes por semana: musculação, corrida e natação. Seu próximo desafio será a prova de 75 km em Morungaba, no interior paulista.
Mensagem: “Olhando para trás, vejo que qualquer pessoa pode mudar o rumo de sua própria vida. Chego à conclusão de que nada pode ser considerado impossível. Nenhum sonho pode deixar de ser realizado. Basta fazer com amor e muita luta! Enquanto eu tiver pernas, mente sã e Deus permitir, continuarei correndo.”
* Jus_Social – Este texto faz parte do projeto Jus_Social, que consiste na publicação no site do TJSP de um texto mensal, diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida de servidores ou magistrados que se destacam nos esportes, em campanhas sociais, no trabalho diário etc.
Comunicação Social TJSP – LV (texto) / Arquivo pessoal (fotos)
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