Filhos da família forense têm história para contar

        Quando as pessoas pensam em Tribunal de Justiça, quase sempre, o que vem à mente são pilhas e pilhas de processos. Gente, correria, prazos, processos e mais processos... O Poder Judiciário paulista não se restringe a processos. Com quase 44 mil servidores, engloba uma grande família: a família forense. Em São Paulo, capital e interior, há funcionários que desde que estavam no ventre da mãe já compartilhavam o cotidiano forense. Há desembargadores e juízes que tiveram nos pais, servidores, o despertar para o mundo das leis. Alguns servidores conheceram seu par em razão do trabalho no fórum. Outros ainda têm pais, filhos ou irmãos que exercem atividades jurídicas sejam no interior do fórum ou – do outro lado do balcão – como advogados.

        Na imensidão desse grande contexto, que é o Tribunal de Justiça de São Paulo, considerado por muitos o maior do mundo, fica difícil o exercício da imaginação sobre a vida de cada servidor, filhos do Poder Judiciário. Mais difícil se torna imaginar quem são os filhos dos filhos do Judiciário. O que fazem, como vivem, em que se destacam?  

        Em se tratando de história de vida, cada funcionário tem a sua para contar. Neste texto, sem qualquer pretensão política ou filosófica, destaque para a oficial de Justiça do Fórum Regional de Santana, Rosimeire Trianon Ribeiro, que há mais de duas décadas trabalha no TJSP. Seu marido, Roberto Carlos Fraga Alves, é agente de segurança (motorista) no TJSP. Nessa história, entre o mundo das leis e processos, tiveram a filha Juliane Trianon Fraga, hoje com 15 anos, que ruma por um mundo diferente do jurídico, mas digno de realce.  Ela já representou o Brasil em competição. Competição? Sim, competição intelectual. 

        Segundo o pai, talvez tudo tenha começado quando Juliane aprendeu a ler. Ele oferecia enigmas à filha para que encontrasse seus ovos de Páscoa. As pistas eram perseguidas com ovinhos até que a menina encontrava o ‘ovão’.  “Brinco que, com isso, incentivei a Juliane a gostar de ciências exatas. Ela estuda na escola, nos livros e, ainda, pesquisa na internet. A Ju adora os desafios”, fala o orgulhoso pai. Os pais têm razão para se orgulhar da garota. Competindo na área de exatas, conquistou medalhas em olimpíadas nacionais e internacionais. Ela gosta de Química, Biologia e Matemática, mas sua paixão é mesmo a Física.

        Estudante do 2º ano do ensino médio em um colégio particular na Zona Norte de São Paulo. Juliane sempre foi boa aluna, mas seu anjo da guarda intelectual é o professor Feliz, isso mesmo, José Feliz Hipólito Gaifem, coordenador da Área de Exatas do colégio. Foi ele quem a convidou para participar de competições científicas quando notou o seu talento. “Nunca achei que fosse boa assim, mas alguns professores disseram que eu tinha capacidade”, fala Juliane, com a timidez própria dos adolescentes que ficam expostos de alguma forma.

        “Na primeira vez que ela competiu, percebi que ainda não estava preparada para isso.” Então falei: “vou te preparar para o ano que vem”, relembra o professor. Feliz disse que a aluna aceitou o desafio sem hesitação. “Ela é determinada e tem realmente muito interesse em aprender.” A preparação consiste em aulas das matérias que cairão na olimpíada, ministradas à noite, após o horário letivo dos estudantes.

        O pai, Roberto Fraga, entende muito bem a importância do professor Feliz nas conquistas da filha. “Também tenho meu ‘anjo da guarda’ que me incentivou a voltar estudar”, afirma. Ele se refere ao desembargador Hamilton Elliot Akel, da 1ª Câmara de Direito Privado. O magistrado o estimulou a cursar Direito, fazer o exame da OAB e pós-graduação. “Quando vi o resultado do exame da OAB, ele foi uma das primeiras pessoas para quem liguei para contar a novidade.”

        Quanto ao futuro da filha, ele e o professor Feliz se mostram preocupados. “Fico muito contente que a Ju queira seguir na área de exatas, mas, no Brasil, o mercado de Física é restrito. Pode-se dizer que a contratação pelas empresas é na proporção de 100 engenheiros para um físico. Ela tem que fazer o que gosta, mas precisa pensar também no retorno financeiro”, frisa o professor.

        Segundo ele, outra qualidade da aluna, é o carisma. “Geralmente, quando uma aluna se sobressai na sala de aula, fica meio deslocada, os colegas também acabam tratando a que se destaca com indiferença. Com a Juliane é bem diferente. Ela conversa com todos e todos a respeitam muito. O pessoal a incentiva a trazer medalhas e todos comemoram quando ela consegue.”

        Premiação – Atualmente, no colégio, Juliane é a recordista de medalhas em olimpíadas, num total de 11. No  ano passado, recebeu medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Física e na Brasileira de Astronomia; prata na Paulista de Física; bronze na Internacional Junior Science Olympiad (IJSO) e menção honrosa na Brasileira de Matemática. A última medalha está fresquinha. No último dia 16, ficou com a prata na Olimpíada Paulista de Física 2010. Seus pais e o professor Feliz também estiveram presentes no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) para prestigiar a medalhista.   

        Juliane não se destaca somente no colégio. Ela representou o Brasil na International Junior Science Olympiad (IJSO) na Nigéria (Abuja), em dezembro último. Para isso, participou da IJSO no Brasil, que contempla estudantes de até 15 anos, e seleciona os seis melhores para compor o time brasileiro. 

        A seleção foi realizada em duas etapas. Na primeira, foram escolhidos os 70 melhores brasileiros para participarem da prova final na Universidade de São Paulo (USP). Nos mesmos moldes da edição internacional, teve 39 questões, sendo 15 dissertativas e 24 testes de múltipla escolha, divididos entre Biologia, Física e Química. Os 20 melhores alunos foram premiados com medalhas; seis deles formaram o time brasileiro que foi a Nigéria para representar o Brasil na IJSO 2010. Juliane foi classificada como a 3ª melhor do Brasil.

        Na Nigéria, conquistou duas medalhas internacionais: prata pelo desempenho individual em toda competição e bronze na prova experimental. A medalha de bronze foi a primeira conquistada pelo Brasil na prova experimental, deixando para trás equipes favoritas como Coréia do Sul, Rússia e China. “Eu nunca tinha tido nenhuma experiência internacional em competições. A Ju me proporcionou isso também”, fala o professor lisonjeado. Ele ressalta que ser inteligente é importante, mas o esforço da garota faz a diferença. “Quando acabam as aulas, ela fica aqui. É muito organizada: estuda, curte sua adolescência e ainda fiquei sabendo que joga futebol.” 

        Juliane diz que estuda em casa, diariamente das 7 às 10 horas, e, às vezes, aos finais de semana. Nos horários de lazer, não dispensa uma ida ao shopping center e ao cinema. Como a maior parte da garotada curte videogame, clipes musicais, filmes do Harry Potter e é torcedora do São Paulo Futebol Clube. Com responsabilidade precoce, orienta: “se tem que estudar, tem que começar agora. Não se pode deixar só para o momento da prova. Não tem como iniciar os estudos e já conseguir sucesso”. Para o professor Feliz, Juliane está no caminho certo. “Muitas pessoas se desvalorizam, não acreditam que são capazes. Todos o são; basta querer.” Segundo ele, as palavras-chave são determinação, estudo e organização. “Sigam a receita da Juliane”, diz o incentivador da adolescente, filha dos filhos do Poder Judiciário paulista.



        NR: O leitor que tiver conhecimento de histórias de destaque de magistrados ou servidores do Poder Judiciário pode enviar sua sugestão de pauta para o e-mail da assessoria de imprensa.



        Assessoria de Imprensa TJSP – LV (texto e fotos)

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