Penitenciária Parada Neto abre Feira Cultural

        Reeducandos da Penitenciária Parada Neto em Guarulhos participaram, ontem (6), das atividades de abertura da 5ª edição da Feira de Arte, Cultura e Ciência 2011. O tema deste ano é “Diálogo”, escolhido no sentido de fortalecer do diálogo entre o cárcere, sociedade civil e corpo funcional. O Hino Nacional e a canção “Dê o seu melhor” foram interpretados pelo coral da unidade e, enquanto acontecia a apresentação, fotos deatividades e comemorações realizadas na penitenciária eram exibidas em um telão. 
        O juiz Jayme Garcia dos Santos Junior, da Vara de Execuções Criminais e corregedor dos presídios da cidade e o juiz auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça, Paulo Eduardo de Almeida Sorci, estavam presentes.
        O dia foi marcado também por apresentações de teatro, música e atividades circenses; pela premiação do Concurso Literário com depoimentos dos integrantes da comissão julgadora; certificação dos cursos de Panificação, Kit Festa e Montagem de Micro Computador a seis reeducandos.
        A feira fica aberta até a próxima sexta-feira (9) com a exposição de produtos confeccionados pelos presos em oficinas realizadas na unidade. No sábado e domingo o setor permanecerá aberto à visitação dos familiares. 
        O diretor de Trabalho e Educação da penitenciária, Antonio de Souza Luz, salientou que cerca de 150 reeducandos também participam de oficinas permanentes onde são feitos refletores, cadeiras, borrachas para condutores, tubos e conexões, móveis, componentes para portões automáticos, janelas e portões de correr. Além deles, cerca de 130 reeducandos trabalham em atividades internas da unidade e, aproximadamente, 300 frequentam aulas de ensino fundamental e médio.
        Segundo Antonio Luz, há cursos profissionalizantes em parceria com a Prefeitura de Guarulhos e o Centro Paula Souza. Já foram ministrados cursos de elétrica, montagem e manutenção de micros. A prefeitura oferece cursos de confeitaria e kit festas, onde aprendem a fazer salgados e doces.
        A diretora da Etec Parque Belém, coordenadora do curso na penitenciária, destaca que novos cursos podem ser realizados, mas que depende da demanda dos encarcerados. “Os cursos visam à empregabilidade e a autonomia financeira, como pedreiro, pintor, texturizador e eletricista.” Ela disse que podem ser disponibilizados cursos na área administrativa, como assistente de administração, auxiliar de logística e telemarketing. “Tudo vai depender do interesse deles e da direção da unidade prisional em fazer a adequação ao perfil de cada um.”
        Representantes de algumas instituições ligadas diretamente com os reeducandos deram depoimentos como Solange Márcia Araújo da Silva, do Fundo Social da Solidariedade da Prefeitura de Guarulhos. Ela confessou que, em maio, ao receber o convite do juiz Jayme explicando o que gostaria que fosse realizado no sistema, não pensou que os trabalhos fossem realizados da forma como foram. “Na massa de pães, muitos colocam muito afeto e muita esperança. Vamos falar, fazer tudo o que for possível nesse esforço de dar vez e voz”, afirmou emocionada. Solange resumiu os significados para os alunos e ex-alunos: paz, liberdade, fé, liberdade, união, tolerância e capacidade. 
        Nos depoimentos de egressos foi unânime o agradecimento ao juiz corregedor, Jayme Garcia, pela sua dedicação à questão carcerária. Um deles, M.D.R.P que conquistou sua liberdade condicional em novembro do ano passado, declara que “muitas portas se fecham, muitos dedos são apontados, mas, por outro lado, outras portas são abertas”. Com entusiasmo ele reforça que a vida não parou, nem todas as portas estão fechadas. “Vocês vão ter oportunidade de serem felizes como eu estou! Para isso, basta confiar em vocês e em Deus. Não desista dos sonhos, esforcem-se que vão alcançá-lo. Estou muito feliz!”
        M.D.R.P conta que procurou o juiz Jayme Garcia pedindo a ele autorização para viajar em um projeto universitário, mas “ele me deu mais que isso, ele perdoou a minha pena. M.D.R.P é missionário de uma igreja evangélica, palestrante e trabalha num projeto universitário. Em janeiro de 2012 vai se casar, Sua noiva, inclusive, estava presente na abertura da feira. O egresso também pediu para que a sociedade civil não desista. “Mesmo que, de dez egressos só um não volta ao sistema, já faz toda a diferença. Eles erraram, mas também têm o direito de ser feliz!”, concluiu.
        Outro egresso, A.A. se lembra de que o sonho enterrado pode ser descoberto. “Passei algum tempo aqui, tive muitas perdas na vida, mas acreditem em Deus, acreditem no sonho. Eu tive o primeiro irmão assassinado, o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto, mas eu acreditei que poderia mudar. Acreditei em mim. Hoje estou aqui, trabalho, sou mecânico. O importante é que você abrace a oportunidade, agarre-a com os pés, com as mãos. Agarre-a! Mude! Alegre sua família, seu amigo, sua vida. 
        J.B., também egresso do sistema, deu seu testemunho. “Meus irmãos de calças beges, um dia chegará a sua vez. Sou metalúrgico e músico também, meu segundo filho nasceu em novembro. No ano passado eu estava aqui com vocês, no coral que vocês estão hoje. Lembrem-se de que no final do túnel há sim uma luz. Nunca parem de sonhar. Acredite no seu objetivo que vai dar certo. J.B. era regente do coral na edição da Feira Cultural de 2010. 
        Quando foi anunciada as palavras da agente penitenciária Maria Betania Ribeiro muitos foram os aplausos. Ela relatou que a iniciativa da Feira Cultural foi um evento que começou timidamente e hoje se tornou grande com muitos parceiros. "Esses parceiros foram como vocês que um dia vieram aqui para conhecer o trabalho e gostaram. Foram cativados e trouxeram colaboradores e patrocinadores". A agente agradeceu aos reeducandos que arregaçaram as mangas para que o evento fosse concretizado e ao juiz que investe o seu tempo no trabalho com reeducandos. Ela entregou ao magistrado um quadro elaborado por presos que retrata a deusa da Justiça.   
        O juiz Jayme Garcia disse acreditar que o cárcere não é um local em que o preso exerça sua paciência e conta com a sorte. “O cárcere é um local em que seres humanos buscam nova oportunidade de vida. O cárcere é uma realidade social, com pessoas que vilusbram uma nova oportunidade de vida. Mas que não depende somente deles, depende também da sociedade civil. O cárcere deve ser um local que o sentenciado entenda que errou e recebeu uma pena legítima e que a pena lhe injete valor moral e que impeça de fazer mal à sociedade. Temos conseguido mudar na Comarca de Guarulhos o panorama do ambiente carcerário com o apoio da sociedade civil e da sociedade organizada.” O juiz complementou sua fala dizendo que o “evento de hoje serve como prova que os senhores iniciaram no cárcere o processo de reinserção social. A liberdade dos senhores chegará mais cedo ou mais tarde. O mais importante não é ter a liberdade e sim o que será feito dela”. 
        O magistrado agradeceu aos servidores da Vara de Execução Criminal e às inúmeras iniciativas da sociedade civil na reinserção de egressos, frisando que o trabalho dos agentes penitenciários, o espírito empreendedor e a conscientização de que eles são o maior elo com a comunidade carcerária. Em palavras direcionadas aos reeducandos, disse “os agentes penitenciários são os responsáveis pelo resgate do dia a dia dos senhores como seres humanos”. 
        As funcionárias da VEC, Maricy Rossi Tegão e Shirley  Silva Higa Nascimento e os agentes penitenciários Maria Betania e José Almeida de Lima foram os responsáveis pela coordenação da Feira Cultural.
        Hoje (7), a Feira está aberta para visita dos familiares. Amanhã (8) os reeducandos de outros raios poderão apreciar a exposição e no último dia (9) os sentenciados assistirão a três sessões de cinema com a exibição dos filmes: Quincas Berro D’água;  Lisbela e o Prisioneiro e o Bem Amado. Na ocasião, o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão,  participará de debates com os reeducandos.

        Comunicação Social do TJSP – LV (texto) / AC (fotos)
        imprensatj@tjsp.jus.br

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