9 de julho na ótica de Paulo Bomfim
O TJSP e a Revolução 32 - O poeta Paulo Bomfim possui profunda e significativa identificação com a Revolução Constitucionalista de 32 e pode, por isso mesmo, ser considerado uma verdadeira testemunha ocular da história. Assessor da Presidência do Tribunal de Justiça, ele lembra com clareza do engajamento de sua família na retaguarda e na linha de frente da batalha, da adesão e do vínculo do TJSP com a Revolução.
Em 1932 o então presidente do Tribunal, Manoel da Costa Manso, manifestou seu apoio à causa revolucionária. Um de seus filhos, Odilon da Costa Manso, lutou na frente de batalha e foi um dos heróis de 32. Aqui no Tribunal do Júri, o promotor Ibrahim Nobre, um dos maiores tribunos brasileiros de todos os tempos, sempre iniciava suas peças acusatórias com a afirmação: “Eu acuso a ditadura...”.
Diversos estudantes de Direito, que mais tarde viriam a tornar-se juízes e desembargadores, engajaram-se na causa, entre eles Júlio Ignacio Bomfim Pontes, Arthur Gaslim Médici e Manoel da Costa Leite. Paulo Bomfim cita o exemplo de um juiz da cidade de Cachoeira Paulista, Sebastião de Vasconcelos Leme, que, ao ver a tropa passando rumo à linha de frente da batalha deixou a toga de lado e pegou o fuzil. Ele era pai do desembargador Pedro de Alcântara da Silva Leme e avô do desembargador Pedro de Alcântara da Silva Leme Filho, que integra atualmente os quadros do Tribunal de Justiça. Washington de Barros Monteiro, professor de Direito e também desembargador do TJSP seguiu o mesmo percurso.
Paulo Bomfim tinha seis anos na época, mas suas lembranças e a vivência daqueles dias de luta e glória serviram-lhe de fonte para que criasse a frase “a trincheira de 32 foi a pia batismal da democracia...” E por falar em memórias, o poeta fazia parte de um grupo de escoteiros na época, que também se engajaram no movimento constitucionalista. Aqueles meninos criaram até seu próprio lema: “se for preciso nós partiremos também...” Tais lembranças são fruto da vida em família, da participação de seu pai, o médico Simeão dos Santos Bomfim, cuidando dos feridos na Santa Casa de Misericórdia; do tio, Guilherme Lebeis, engenheiro da coluna Romeu Gomes; de Humberto de Andrade Junqueira, futuro corregedor-geral da Justiça e marido de sua prima Bia Veludo, que fez parte da Cavalaria do Rio Pardo, no interior do Estado. As mulheres da família também contribuíram, fazendo lanches que eram distribuídos aos soldados ou costurando uniformes. A tia Nicota cuidou das famílias dos exilados e hoje seu corpo repousa no mausoléu do soldado constitucionalista, no Ibirapuera.
Vale lembrar - A Revolução Constitucionalista de 1932, conhecida também como Revolução de 32 ou Guerra Paulista, foi um movimento armado surgido a partir da insatisfação do Estado de São Paulo com o Golpe de Estado que levou Getúlio Vargas ao poder e a nomeação de interventores nos estados, no fato histórico que ficou conhecido como a Revolução de 1930. O golpe impediu, ainda, a posse de Júlio Prestes na Presidência da República e derrubou o então presidente Washington Luís. O país esperava então, conforme fora prometido, a convocação de eleições e a promulgação de uma nova Constituição. No entanto, mais de dois anos se passaram e o governo, que deveria ser provisório, se mantinha. A população paulista criticava frequentemente a forma autoritária com que Getúlio vinha conduzindo o país, exigia um governo mais democrático e maior participação na vida política do Brasil, incluindo a substituição do interventor João Aberto, pernambucano, por um interventor paulista.
A demora do Governo Vargas em convocar uma Assembleia Constituinte provocava uma crescente insatisfação, especialmente no Estado de São Paulo. Em 23 de maio de 1932 realiza-se um ato político contra a situação, no centro da capital paulista. A manifestação é reprimida com violência pela polícia, que resulta na morte de quatro estudantes. Em homenagem a eles surge o movimento MMDC, iniciais dos nomes dos quatro jovens mortos – Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. O fato provocou o aumento do apoio da classe média ao movimento e as iniciais transformaram-se no símbolo da revolução. Em 9 de julho tem início a rebelião armada e é deflagrada a Revolução Constitucionalista de 1932.
O desequilíbrio entre as forças governistas e constitucionalistas era grande. O governo federal tinha o poder militar e os rebeldes contavam apenas com a mobilização civil e da Força Pública. As tropas paulistas lutaram praticamente sozinhas contra o resto do país. As armas e alimentos eram fornecidos pelo próprio estado, que mais tarde conseguiu o apoio do Mato Grosso. São Paulo contava com a união e o prometido apoio de outros estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que não chegou.
Ao final de cerca de três meses do início da Revolução os paulistas anunciaram sua rendição. Os combates deixaram um saldo de mais de 900 mortos pelo lado paulista e quase o dobro das tropas federais.
Comunicação Social TJSP - RP (texto) / AC (foto ilustrativa)