EPM promove o curso ‘A pandemia do século 21: utopias e distopias’

Exposição foi ministrada por Eduardo Muylaert.

 

Foi realizado ontem (8) o curso A pandemia do século 21: utopias e distopias da EPM, com exposição do advogado, escritor e fotógrafo Eduardo Augusto Muylaert Antunes e coordenação do desembargador Luiz Sergio Fernandes de Souza e do juiz Paulo Roberto Fadigas César.

 

A abertura dos trabalhos foi feita pelo diretor da EPM, desembargador Luis Francisco Aguilar Cortez, que agradeceu a participação de todos e destacou que, além de atuar na formação de magistrados e no aperfeiçoamento em áreas específicas, a Escola também deve propiciar um espaço de reflexão para temas relevantes da vida cotidiana. “Teremos, sem dúvida, mais uma oportunidade de ganhar conhecimento e trocar experiências”, frisou.

 

Eduardo Muylaert, mencionou inicialmente trecho de crônica do jornalista José Castelo para definir a sensação da maioria das pessoas durante a pandemia: “todos estamos cansados. Exaustos. A fadiga é a sensação que melhor define o presente. Uma pandemia que parece interminável”. E ponderou que o cansaço incita as pessoas a fazerem aquilo que não estavam acostumadas, transforma e abre novos espaços: “cansados do que fomos, podemos enfim renascer”.

 

Ele recordou que outras pandemias assolaram o mundo, lembrando que a maior epidemia conhecida da Idade Antiga ocorreu na Guerra do Peloponeso, na Grécia (430 a 427 a.C), vitimando dois terços da população de Atenas. Observou também que por ocasião da chegada de Colombo nas Américas, em 1496, os Tainos, povo indígena das Caraíbas, eram cerca de 60 mil e em 1548 não chegavam a 500, sendo a maioria dizimada por doenças trazidas pelos europeus. E recordou a peste negra, maior pandemia da história, lembrando que ela começou na Ásia em 1347 e dizimou entre 25 e 75 milhões de pessoas (de um terço a metade da população europeia).

 

O expositor definiu distopia como a representação ou descrição de uma organização social caracterizada por condições de vida insuportáveis, que podem incluir opressão, desespero e privação, apontando semelhanças com a situação atual. Mencionou também o conceito retratado em obras como 1984, de George Orwell; Admirável mundo novo, de Aldous Huxley; Fahrenheit 451, de Ray Bradbury; e o mais recente O conto da aia, de Margaret Atwood.

 

Eduardo Muylaert ressaltou que a demanda por imunização se tornou central na vida das pessoas e quanto mais elas se sentem sob o risco de serem infiltradas e infectadas por elementos estranhos, mais a vida do indivíduo e da sociedade se fecha em ambientes protetores. E observou que com isso também aumenta o risco de rejeição da diferença – aos estrangeiros, àqueles que têm opções que fogem ao tradicional e até mesmo àqueles que pensam de modo original. Entretanto, recordou que paradoxalmente parte da população manifesta rejeição à imunização e a qualquer vacina, com consequências desastrosas, como a volta da poliomielite e do sarampo. “A vacina não é uma proteção individual, é coletiva”, asseverou.

 

Quanto à reação das pessoas à pandemia, observou que há uma suposta sensação de igualdade, de que ela pode atingir a todos da mesma maneira, mas na realidade os países mais pobres são mais vulneráveis, assim como aqueles que vivem em ambientes com escassez de higiene, arejamento e espaço.

 

Ele também destacou o problema das fakenews, lembrando que uma edição especial da revista britânica The Economist publicou em outubro do ano passado toda a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre a pandemia (“Case Law compilation – Covid-19: Brazilian Federal Supreme Court”), em razão das fakenews que tentam distorcer o sentido das decisões do STF. “O Supremo entendeu que precisava mostrar sua jurisprudência até no exterior”, frisou.

 

Entre as mudanças mais significativas trazidas pela pandemia, Eduardo Muylaert citou o homeoffice e a aplicação da inteligência artificial cada vez mais presente, inclusive no campo do Direito. “A pandemia obrigou a virtualização da Justiça. Ao mesmo tempo que ela melhora a eficácia, traz um grande risco de desumanização”, ponderou, enfatizando que as mudanças tecnológicas influenciam profundamente a maneira de ver e compreender o mundo, a psique humana e até a rotina de sono.

 

LS (texto) / Reprodução (imagem)

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