Paulo Bomfim se transformou em palavras

Hoje o poeta faria 95 anos.

 

Se não tivesse partido em 7 de julho de 2019, o poeta Paulo Bomfim – à época decano da Academia Paulista de Letras e figura presente anos a fio no Poder Judiciário paulista – hoje completaria 95 anos. Em 2021, as pessoas se ressentem da presença física do “Príncipe dos Poetas” e não do legado, já que seus poemas e textos permeiam discursos, aulas, discussões intelectualizadas e conversas de corredores no Palácio da Justiça, junto aos profissionais do Direito e nas Academias de Letras de todo o país.

 

 

 

Aquele menino

 

Eu sou aquele menino

Que o tempo foi devorando,

Travessura entardecida,

Pés inquietos silenciando

Na rotina dos sapatos,

Mãos afagando lembranças,

Olhos fitos no horizonte

À espera de outras manhãs.

- Ai paletós, ai gravatas,

Ai cansadas cerimônias,

Ai rituais de espera-morte!

Quem me devolve o menino

Sem estes passos solenes,

Sem pensamentos grisalhos

Sem o sorriso cansado!

Que varandas me convidam

A ser criança de novo,

Que mulheres, só meninas,

Me tentam a cabular

As aulas do dia a dia?

Eu sou aquele menino

Que cresceu por distração.

 

 

 

  Vale recordar – Nascido em São Paulo (SP), em 1926, filho de Simeão dos Santos Bomfim e Maria de Lourdes Lébeis Bomfim, descendente de bandeirantes e de fundadores de cidades, Paulo Bomfim cresceu rodeado de cultura, desde criança convivendo com artistas amigos de sua família, como Guilherme de Almeida e Heitor Villa-Lobos. Em 1932, o então menino, presenciou a Revolução Constitucionalista, movimento que marcou sua vida e obra. Homens de sua família lutaram nas trincheiras e mulheres participaram como enfermeiras e auxiliares. Sua tia Nicota cuidou das famílias dos exilados e hoje repousa no Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, no Ibirapuera. À medida que os participantes envelheciam e morriam, o poeta foi, aos poucos, tornando-se a memória viva da jornada constitucionalista. “A trincheira de 32 foi a pia batismal da democracia”, escreveu Bomfim. Leia e ouça o poema “Os jovens de 32”.

Foi aluno da velha e sempre nova Academia de Direito do Largo de São Francisco, mas optou por não terminar o curso jurídico, a fim de se dedicar ao jornalismo. Iniciou suas atividades jornalísticas em 1945, no Correio Paulistano, indo a seguir para o Diário de São Paulo, a convite de Assis Chateaubriand, onde escreveu durante uma década a coluna "Luz e Sombra”. Além de jornais, Paulo Bomfim atuou no rádio e na televisão.

A saga de Paulo Bomfim também se confunde com a história do Tribunal de Justiça de São Paulo. Começou no Poder Judiciário com o juiz de menor Aldo de Assis Dias, onde trabalhou organizando técnicas do Juizado. É de sua autoria o Hino do TJSP, da Escola Paulista da Magistratura (EPM) e da Associação Paulista de Magistrados (Apamagis). Ele também é o único que o TJSP homenageou em vida com uma sala que leva seu nome: Espaço Cultural Paulo Bomfim, localizado no 2º andar do Palácio da Justiça, e que abriga acervo pessoal, composto por obras de sua autoria, honrarias recebidas e cópia de seu retrato feito por Anita Malfatti, além de vestes e apetrechos da Revolução Constitucionalista de 32.

A Justiça e seus integrantes foram temas de diversos versos do poeta, como em “Credo”: “Creio na vocação judicante e na responsabilidade que esse ofício nos confere. / Creio no destino de um Poder que dá a São Paulo dignidade no Presente e confiança no Futuro / Creio na saga da Magistratura bandeirante que tem neste Palácio seu templo, sua tribuna e sua liturgia / Creio na sacralidade da toga, na missão de julgar, na vitória da Lei a serviço do Bem.”

Em 1945, Anita Malfatti pintou “O retrato”, obra que retrata o jovem poeta Paulo Bomfim. Seu livro de estreia foi "Antônio Triste", publicado em 1947, com prefácio de Guilherme de Almeida e ilustrações de Tarsila do Amaral. Na apresentação, Guilherme de Almeida saudou o jovem estreante como "o novo poeta mais profundamente significativo da nova cidade de São Paulo". A obra foi premiada, em 1948, pela Academia Brasileira de Letras com o "Prêmio Olavo Bilac". Na comissão julgadora, Manuel Bandeira, Olegário Mariano e Luiz Edmundo. “O prêmio que recebi de Manuel Bandeira nos anos 1940 foi o meu batismo”, disse o poeta em certa ocasião.

Suas obras foram traduzidas para o alemão, o francês, o inglês, o italiano e o castelhano. O poeta ocupou desde 1963 a cadeira 35 da Academia Paulista de Letras, da qual se tornou o decano. Ao longo de sua trajetória publicou 37 obras. Entre as diversas honrarias, prêmios e reconhecimentos que recebeu ao longo da vida, em 1981 Paulo Bomfim foi eleito “Intelectual do Ano” pela União Brasileira de Escritores, conquistando o Troféu Juca Pato. Em 1991, recebeu o título de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, outorgado pela Revista Brasília, e o prêmio “Obrigado São Paulo”, da TV Manchete. Também ganhou o “Prêmio da União Brasileira de Escritores”, por seus 50 anos de poesia. Em 2004 recebeu o troféu “Destaque Cultural”, entregue pelo governo de São Paulo. Em 2012 foi agraciado com o “Colar do Mérito Judiciário do Tribunal de Justiça de São Paulo”, a mais alta honraria da Corte paulista. Também recebeu o “Destaque Cultural 2014”, entregue pelo governador do Estado, e diversas condecorações alusivas à jornada de 32.

“Enquanto viver, por onde andar, levarei teu nome pulsando forte no coração, e quando esse coração parar bruscamente de bater, que eu retorne à terra donde vim, à terra que me formou, à terra onde meus mortos me esperam há séculos; por epitáfio, escrevam apenas sobre meu silêncio, minha primeira e eterna confissão: – EU TE AMO SÃO PAULO!”

Como dizia Paulo Bomfim: “poetas não morrem, eles se transformam em palavras”.

 

Comunicação Social TJSP – (texto e foto)

imprensatj@tjsp.jus.br

 

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