De acorde em acorde, desembargador-músico lança CD com renda destinada à filantropia
Quem quiser colaborar com a causa defendida pela Cruz Verde pode, simultaneamente, ter acesso à música de excelente qualidade
"Eu toco de orelhada, de ouvido mesmo!" Ele não estudou música. Seu contato com a música e instrumentos começou quando tinha apenas 11 anos. Iniciou tocando violão e prosseguiu na guitarra, contrabaixo, bateria e ainda 'arranha' um pouco de piano, segundo ele, que também compõe canções.
O autor da proeza é o desembargador José Carlos Gonçalves Xavier de Aquino, que está divulgando seu último CD, com toda a renda destinada à entidade filantrópica Associação Cruz Verde. São 18 canções de autoria do Zeca Aquino – nome artístico com que o magistrado é conhecido no meio musical –, algumas em parceria com Arnaldo Antunes, Michel Freidenson, Cau Pimentel, Bene Chiaradia, Brotinho e Durval Rodrigues.
O CD conta com a participação de artistas como Ivan Lins, Seu Jorge, Maurício Manieri, Happin Hood, Marcia Salomon, Lucila Novaes, Vitoria Maldonado, Hot Club de Piracicaba, Rockfeller, Lula Barbosa, JaQue e o humorista Beto Hora, entre outros.
Alguns amigos de Zeca Aquino são de longa data, como Ivan Lins (que ele trouxe em 1970 para São Paulo, pela primeira vez); Norival D'Angelo, amigo de meio século, seu baterista atual que também toca o instrumento com Roberto Carlos.
Zeca Aquino iniciou tocando rock e fez parte da segunda formação de um dos primeiros conjuntos de rock do Brasil, Álamos. Tocou também no Galáxies, Beatniks e Rockfeller e no auge da Jovem Guarda. Depois partiu para música brasileira. Em 1973, foi o segundo colocado no Festival Universitário da Canção, da TV Tupi, com a canção Toada.
A escolha – Chegou um momento de sua vida em que teve de fazer uma dura escolha: que carreira seguir? Influência não lhe faltava. Pelo lado materno corria-lhe na veia o sangue musical e, pelo paterno, a corrente jurídica. Entretanto Zeca Aquino tinha que pensar com a razão. "Sempre tive os pés no chão e os olhos na realidade. Sabia que, como músico, sofreria muito, provavelmente iria tocar em barzinhos e com sorte talvez alcançasse algum sucesso, efêmero. Então, escolhi e me dediquei à carreira jurídica com afinco."
Ao ingressar no mundo jurídico, escondeu o seu lado artístico por conta do preconceito, pois músicos eram tachados de 'vagabundos'. "Larguei a música, mas a música não me largou!", afirma, sorridente.
Filho de Octacílio Xavier de Aquino e Odette Gonçalves Xavier de Aquino, Zeca Aquino começou sua carreira como promotor de Justiça em 1975, na Comarca de São Caetano do Sul. Passou por Suzano, Palmeira D'Oeste, Santa Izabel, Osasco, Barueri, Guarulhos, Poá, Suzano, Tatuí, Mauá, Cotia, Itapecerica da Serra, Diadema, Mairiporã e Capital. Dez anos depois, chegou a procurador da Justiça, promovido pelo critério de merecimento. Consta, ainda, em seu currículo que foi assessor do secretário da Administração do Estado de São Paulo, assessor especial do secretário da Segurança do Estado de São Paulo, coordenador da Assessoria Técnico Policial da SSP e conselheiro estadual de Política Criminal e Penitenciária.
No ano de 1993, Xavier de Aquino chegou à magistratura pelo 5º Constitucional – Classe Ministério Público, como juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo. Em 1999, foi promovido, pelo critério de antiguidade, a desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.
O retorno – Xavier de Aquino ressalta que há dez anos a música voltou explodindo. "O que fica escondido explode!", declara isso na canção Planta Colhe. O retorno do magistrado-músico ocorreu por influência do desembargador Sebastião Amorim, na época presidente da Associação Paulista de Magistrados (Apamagis), que lhe sugeriu mostrar à população que juiz era humano como qualquer outro homem e que ele, como músico, tinha que mostrar isso.
Há coisa de uns sete anos, chamaram Zeca Aquino para integrar o conjunto Rockfeller. Gravaram até o tema da novela Revelação, sucesso no SBT. Segundo ele, não houve como conseguir acompanhar o ritmo intenso do grupo, pois tinha que viajar o Brasil inteiro. Ficou três anos com o grupo, o tempo de fazer o CD autoral, mas seu compromisso com a magistratura falou mais alto.
Ele cita alguns magistrados que também são músicos: Tercio Pires, que toca violão e grava com pseudônimo, e José Fernando Seifarth de Freitas, de Piracicaba, que ele considera um grande magistrado e um grande guitarrista, tendo inclusive participado de seu último trabalho. José Fernando tem dois conjuntos, o Hot Club de Piracicaba e o JaQue. No conjunto toca também o filho do desembargador aposentado Otavio Helene. Zeca Aquino conta, rindo, que, depois que foi ao Programa do Jô, muitos magistrados-músicos – artistas de todas as ordens – surgiram.
Em 2011, Xavier de Aquino organizou o 1° Festival Amador ‘Professor Manoel Pedro Pimentel’ do Juiz Intérprete, promovido pela Escola Paulista da Magistratura (EPM). O evento foi realizado no auditório do prédio dos gabinetes dos desembargadores da Seção de Direito Público do TJSP (MMDC). Houve apresentações especiais do ministro Massami Uyeda, do Superior Tribunal de Justiça, que cantou “Emoções” e “Garota de Ipanema”, além de outros magistrados.
Ele gravou alguns de seus trabalhos. Os últimos foram Zeca Aquino ao Vivo (Minha História) e Músicas de A a Zeca Aquino. "Gosto de fazer as coisas com dedicação. A inspiração vem a qualquer hora e em qualquer lugar. Às vezes estou em um restaurante e, então, peço para minha esposa escrever para mim; em outras ocasiões, acordo com a música na minha cabeça." Zeca Aquino teve trabalho gravado com Seu Jorge. "Ele gravou a canção de minha autoria Conversa de Bêbado, que concorreu como o melhor clipe da MTV 2012."
Homenagens – Xavier de Aquino fez a música Bipolar em homenagem a Rita Lee quando ela declarou ser bipolar e também homenageou o presidente da Academia Paulista de Letras, Antonio Penteado Mendonça, que fez parte da Comissão do 183º Concurso de Ingresso à Magistratura Paulista, da qual Xavier de Aquino era o presidente.
Na música Nosso Amor, interpretada por ele e por Márcia Salomon, homenageou os artistas brasileiros. "Há artistas, entre outros Ivan Lins, Djavan, Chico Buarque e Tom Jobim, que não são músicos nem musicais, eles são a música! Outros executam as criações." Fez também as músicas Parceiros, em homenagem ao parceiro literário, Renato Nalini; e Sabedoria, para o poeta Paulo Bomfim, que prefaciou o livro de poesia de Odette Aquino, sua mãe, que aos 88 anos lançou a obra.
Durante a conversa, o desembargador lamentou com muita tristeza a morte de Nenê Benvenuti, dos Incríveis, ocorrida nesta semana, em São Paulo, vítima de câncer.
A Colaboração com a Vera Cruz – "A parte musical surge como um hobby que me satisfaz. Nasci na Vila Clementino e cheguei a uma parte da minha vida que não quero ter mais, eu quero ser, quero ajudar as pessoas. Visitei a Associação Cruz Verde, que fica nesse bairro e é mantida por voluntários. São 120 leitos que recebem crianças com paralisia cerebral. Conheci a realidade do local, é muito triste. As crianças anencefálicas são abandonadas e o coração ainda bate, mesmo sem ter cérebro. Uma forma de ajudar é destinar a renda proveniente da venda dos CDs para a associação. O show também será revertido em benefício delas."
Para os que quiserem colaborar com a causa e, por tabela, ouvir música de excelente qualidade fica a dica: Zeca Aquino ressalta que o CD pode ser adquirido diretamente na Cruz Verde, pelo telefone (11) 5579-7335, com Juliana.
"As crianças agradecem!", diz o desembargador-músico.
Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que – de alguma forma – realizam atividades que se destacam entre os servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que o diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados. Com o projeto “Jus_Social”, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).
NR: Participe. Envie sugestões de pauta sobre magistrados e servidores do Poder Judiciário para o e-mail da Comunicação Social.
Comunicação Social TJSP – LV (texto) / Divulgação (fotos)
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